terça-feira, 27 de setembro de 2011

Estudo e reflexão do texto O Manifesto do Corpode Miguel Vale de Almeida.

Alunas: Julie Ane Oliveira e Marcela Ferreira

 O vocábulo corpo, termo rico de significado em nossa língua portuguesa, apresenta infinitas definições ao longo da história. No entanto, comumente ao pensarmos no corpo, somos levados quase de imediato a imagem de um conjunto de membros, isto é, a ideia meramente ‘biológica’ do mesmo. Porém, conforme vamos refletindo e tomando contato com literaturas e debates, percebemos as infinitas possibilidades terminológicas que o corpo dispõe. Objetivando um maior aprofundamento dessa discussão, tomamos como base o texto O Manifesto do Corpode Miguel Vale de Almeida , e nos propomos a explanar um pouco mais sobre a temática supracitada. 

Segundo Almeida (1996) todas as pessoas são identificadas por meio de sinais diacríticos, ou seja, através de sua aparência, ou do que ele chama de ‘sinais exteriores ancorados em seus corpos’. Assim, para o autor, normalmente costumamos rotular as pessoas por suas características corporais, classificando-as como altas, baixas, brancas, negras, loiras, gordas, magras e etc. Inclusive, em sua abordagem o primeiro exemplo citado é o de Alberto, um rapaz negro que vive em Lisboa e ao andar pelas ruas é alvo de olhares, por conta de sua aparência. 

Na situação proposta, percebemos que antes de ser reconhecido como um ser humano, Alberto é primeiramente identificado como pertencente a um grupo, no caso a uma raça. Dessa forma, compreendemos que muito mais que características descritivas, os sinais diacríticos, estabelecem uma relação de diferença de sentido e significado, e quando tratam-se de corpos são vinculados muitas vezes a rótulos que inferiorizam ou superiorizam os indivíduos. 

A maioria dos ‘juízos’ de valores são tendenciosos, e findam pelo caminho da perda da identidade, logo os indivíduos, não se veem mais como sujeitos, mas apenas como partes de um grupo no qual nem obtiveram direito de escolha por ali serem enquadrados. Como afirma Almeida (1996), ‘as categorias não estão aí apenas para ajudar a organizar a cognição – elas não são neutras ou horizontais, ou sequer simétricas’, pelo contrário são desiguais de forma a classificar uns como melhores, e outros como piores. 

Vale ressaltar, que os grupos inferiorizados geralmente são os que apresentam-se em minoria, ou fora de padrões socialmente impostos. A mídia publicitária contribui de forma significativa, para as ideias de corpo ideal, apresentado padrões que sugerem controle, desejo e fetiche. Desse modo grande parte do público consumidor ‘compra’ a ideia, e a busca pelo padrão ideal torna-se muitas vezes uma obsessão. Esse medo de ser diferente, de não ser simetricamente perfeito, e principalmente de não conseguir inserir-se nos espaços sociais, tem levado muitas pessoas a decisões extremas, onde a mutilação e cativeiro do corpo são atitudes que algumas vezes levam a caminhos sem volta.

O Manifesto do Corpo, nesse sentido vem ‘denunciar’, e atuar como verdadeiro manifesto de defesa do corpo, motivando-nos a reflexões bem além da superfície corporal. Através dos personagens ‘criados’ pelo autor, inferimos que pensar no corpo é pensar em nossas raízes e identidade, especialmente no contexto atual onde o corpo é cultuado, e a ‘indústria do corpo’ é cresce notavelmente. Assim, observar, ler e refletir sobre tal temática possibilitou-nos uma visão mais ampla acerca do que é o corpo, e essa visão estendeu-se além da ideia de corpo como produto e produção cultural. 

Nosso corpo é história, é espírito, é poder, mas acima de tudo é uma fonte inesgotável de símbolos, que simultaneamente é patrimônio. Patrimônio esse que tem sido mais refém do que aliado na construção histórica do homem real e ideal, que se inventa e reinventa dia após dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário