terça-feira, 18 de outubro de 2011

Entrevista com a pedagoga Joselma Dória Figueiredo


Alunas: Amanda Vasconcelos Bessa e Lívia Chaves Lima

A entrevista foi realizada em uma escola particular de Fortaleza com a pedagoga Joselma Dória Figueiredo, especialista em psicopedagogia e psicomotricidade, com o objetivo compreender a visão de uma pedagoga sobre corpo, movimento e educação.

Os movimentos expressivos do corpo identificam a necessidade natural que todo ser humano tem de expor seus sentimentos e pensamentos de forma sistematizada ou não. Segundo Silvana Vilodre, o movimento do corpo se afirma através do conhecimento de si mesmo, portanto o corpo manifesta a identidade, através das diversas intervenções impostas por nossa cultura.

Segundo Michel Foucault, a problematização do corpo que determinadas culturas atribuem são estabelecidas para o controle da sociedade sobre o indivíduo, assim, estranhá-lo e colocá-lo em questão sem entender seu significado e sem valorizá-lo faz parte das representações que foram criadas para perseguir um ideal de beleza muitas vezes inalcançável.

O ideal de beleza que a maioria das pessoas almeja é aquele que a mídia supervaloriza. Ideal que muitas vezes é virtual e não pode ser alcançado, pois existem programas de computador que melhoram a aparência da pele, as formas do corpo, ou seja, segue-se um referencial que de fato não existe. Indivíduos que não estão dentro desse padrão de “corpo ideal” podem até se sentir bem com o próprio corpo em determinado momento da vida, entretanto passam a buscar esses padrões para se encaixar em determinadas representações, e muitas vezes para ganhar destaque em seu meio social.

O conhecimento do próprio corpo é muito importante para que cada indivíduo se sinta bem com sua forma, pois a partir do momento em que existe uma relação de satisfação com o corpo, não se deixa que as influencias, principalmente das industrias de beleza e da mídia, interfiram na identidade de cada um.

Deste modo, podemos perceber o quanto é importante que se tenha um autoconhecimento sobre o próprio corpo e uma visão critica sobre os referenciais estéticos da mídia para não deixar que o exagero da individualização das aparências se torne uma referência ou uma identidade para cada um, pois cada corpo é único.


GOELLNER, Silvana Vilodre. A produção cultural do corpo. In: LOURO, Guacira Lopes; FELIPE, Jane; GOELLNER, Silvana Vilodre (Org.). Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2ª ed. 2005. p. 28 - 40.

Segue entrevista >>

1.    Qual o seu nome, a sua profissão e a sua formação profissional?
Joselma Dória Figueiredo, professora, formada em pedagogia, serviço social, com especialização em psicopedagogia e psicomotricidade.

2.    O que é o corpo na sua concepção?
É o objeto primário pelo qual o homem apreende e experimenta o mundo.

3.    Em sua opinião qual a importância da linguagem corporal e como você a utiliza no seu dia a dia?
O corpo é o meio pelo qual a psique se manifesta. O corpo é capaz de apreender muito mais do que o homem é capaz de perceber. Dessa forma, a linguagem corporal é o meio no qual deposito um olhar mais atento sobre as minhas ações em comparação com as dos outros.

4.    Quais processos educativos podemos utilizar em sala de aula para que a criança adquira um autoconhecimento do seu corpo e assim, possa fazer a construção da sua identidade?
O corpo deve ser percebido a partir da metáfora do movimento. O movimento é a forma pelo qual o corpo busca se afirmar no espaço. Tudo aquilo que busca uma interação do corpo em função de sua conexão com o espaço, exige da pessoa uma reflexão sobre as suas capacidades e conhecimentos corporais.

5.    Você acha importante problematizar o corpo com as crianças para se trabalhar as diferenças?
Sim. O corpo é um instrumento de aplicação complexa. É uma estrutura modulável e intercambiante. Sua afirmação se dá pela diferença de possibilidades possíveis dentro do mesmo espaço. Sua problematização é um sintoma inerente a sua própria constituição, o corpo como objeto de autoconhecimento é um indício de particularidades e especificidades não-lineares. No cerne de sua estrutura, o corpo é em si mesmo, a sua própria diferenciação.

6.    Você concorda que a escola é um espaço que interioriza os hábitos e valores da sociedade através da educação dos corpos? Por quê? 
Sim. A escola se insere dentro de um contexto cultural e perpetua diversos aspectos da sociedade em sua rotina diária, sendo, responsável direta pela promulgação de determinados conceitos e equívocos em relação ao corpo.

7.     A televisão, as revistas, as propagandas estão o tempo todo exibindo a individualização da aparência que muitas vezes torna-se exacerbada. Você acha que essas interferências da mídia podem acabar modificando na maneira que cada um pensa sobre o seu corpo?
            Sim. A construção de um corpo perpassa por uma ideia de mimese, ou imitação. A mídia prega uma equalização de conceitos e definições  trazendo a tona toda uma compreensão equivocada por parte da sua audiência. Incidindo e propondo uma série de generalidades culturais e sociais, o corpo passa a ser visto como um elemento pré-moldado, estabelecido como material de busca comum a todos, não existindo a possibilidade de multiplicidades e pluralidades. Assim, a mídia estimula a busca por um corpo ideal, um corpo já parado e programado. O público apreende esse modelo e passa a copiá-lo no seu imaginário e em sua vida diária.

8.      Você acha que o corpo pode ser revelador da identidade de cada pessoa? Por quê?
 Sim. O corpo é a matéria do ser humano. Tudo aquilo que pode ser expressado psicologicamente (dentro) pode ser expressado corporalmente (fora). Sendo assim, o homem molda seu corpo a partir daquilo que lhe compõe.

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