Alunas: Amanda Vasconcelos Bessa e Lívia Chaves
Lima
A entrevista foi realizada em uma escola
particular de Fortaleza com a pedagoga Joselma Dória Figueiredo, especialista em
psicopedagogia e psicomotricidade, com o objetivo compreender a
visão de uma pedagoga sobre corpo, movimento e educação.
Os movimentos expressivos do corpo
identificam a necessidade natural que todo ser humano tem de expor seus
sentimentos e pensamentos de forma sistematizada ou não. Segundo
Silvana Vilodre, o movimento do corpo se afirma através do conhecimento de si
mesmo, portanto o corpo manifesta a identidade, através das diversas
intervenções impostas por nossa cultura.
Segundo Michel Foucault,
a problematização do corpo que determinadas culturas atribuem são estabelecidas
para o controle da sociedade sobre o indivíduo, assim, estranhá-lo e colocá-lo
em questão sem entender seu significado e sem valorizá-lo faz parte das
representações que foram criadas para perseguir um ideal de beleza muitas vezes
inalcançável.
O ideal de beleza que a
maioria das pessoas almeja é aquele que a mídia supervaloriza. Ideal que muitas
vezes é virtual e não pode ser alcançado, pois existem programas de computador
que melhoram a aparência da pele, as formas do corpo, ou seja, segue-se um
referencial que de fato não existe. Indivíduos que não estão dentro desse
padrão de “corpo ideal” podem até se sentir bem com o próprio corpo em
determinado momento da vida, entretanto passam a buscar esses padrões para se
encaixar em determinadas representações, e muitas vezes para ganhar destaque em
seu meio social.
O conhecimento do próprio
corpo é muito importante para que cada indivíduo se sinta bem com sua forma,
pois a partir do momento em que existe uma relação de satisfação com o corpo,
não se deixa que as influencias, principalmente das industrias de beleza e da
mídia, interfiram na identidade de cada um.
Deste modo, podemos
perceber o quanto é importante que se tenha um autoconhecimento sobre o próprio
corpo e uma visão critica sobre os referenciais estéticos da mídia para não
deixar que o exagero da individualização das aparências se torne uma referência
ou uma identidade para cada um, pois cada corpo é único.
GOELLNER, Silvana Vilodre. A produção cultural do corpo. In: LOURO, Guacira Lopes; FELIPE, Jane; GOELLNER, Silvana Vilodre (Org.). Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2ª ed. 2005. p. 28 - 40.
GOELLNER, Silvana Vilodre. A produção cultural do corpo. In: LOURO, Guacira Lopes; FELIPE, Jane; GOELLNER, Silvana Vilodre (Org.). Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2ª ed. 2005. p. 28 - 40.
Segue entrevista >>
1.
Qual o
seu nome, a sua profissão e a sua formação profissional?
Joselma Dória Figueiredo, professora, formada em
pedagogia, serviço social, com especialização em psicopedagogia e
psicomotricidade.
2.
O que é o
corpo na sua concepção?
É o objeto primário pelo qual o homem apreende e
experimenta o mundo.
3.
Em sua
opinião qual a importância da linguagem corporal e como você a utiliza no seu dia
a dia?
O corpo é o meio pelo qual a psique se manifesta. O
corpo é capaz de apreender muito mais do que o homem é capaz de perceber. Dessa
forma, a linguagem corporal é o meio no qual deposito um olhar mais atento
sobre as minhas ações em comparação com as dos outros.
4.
Quais
processos educativos podemos utilizar em sala de aula para que a criança
adquira um autoconhecimento do seu corpo e assim, possa fazer a construção da
sua identidade?
O corpo deve ser percebido a partir da metáfora do
movimento. O movimento é a forma pelo qual o corpo busca se afirmar no espaço.
Tudo aquilo que busca uma interação do corpo em função de sua conexão com o
espaço, exige da pessoa uma reflexão sobre as suas capacidades e conhecimentos
corporais.
5.
Você acha
importante problematizar o corpo com as crianças para se trabalhar as
diferenças?
Sim. O corpo é um instrumento de aplicação
complexa. É uma estrutura modulável e intercambiante. Sua afirmação se dá pela
diferença de possibilidades possíveis dentro do mesmo espaço. Sua
problematização é um sintoma inerente a sua própria constituição, o corpo como
objeto de autoconhecimento é um indício de particularidades e especificidades
não-lineares. No cerne de sua estrutura, o corpo é em si mesmo, a sua própria
diferenciação.
6.
Você
concorda que a escola é um espaço que interioriza os hábitos e valores da
sociedade através da educação dos corpos? Por quê?
Sim. A escola se insere dentro de um contexto
cultural e perpetua diversos aspectos da sociedade em sua rotina diária, sendo,
responsável direta pela promulgação de determinados conceitos e equívocos em
relação ao corpo.
7.
A
televisão, as revistas, as propagandas estão o tempo todo exibindo a
individualização da aparência que muitas vezes torna-se exacerbada. Você acha
que essas interferências da mídia podem acabar modificando na maneira que cada
um pensa sobre o seu corpo?
Sim.
A construção de um corpo perpassa por uma ideia de mimese, ou imitação. A mídia
prega uma equalização de conceitos e definições trazendo a tona toda uma
compreensão equivocada por parte da sua audiência. Incidindo e propondo uma
série de generalidades culturais e sociais, o corpo passa a ser visto como um
elemento pré-moldado, estabelecido como material de busca comum a todos, não
existindo a possibilidade de multiplicidades e pluralidades. Assim, a mídia
estimula a busca por um corpo ideal, um corpo já parado e programado. O público
apreende esse modelo e passa a copiá-lo no seu imaginário e em sua vida diária.
8. Você acha que o corpo pode ser revelador da
identidade de cada pessoa? Por quê?
Sim. O corpo é a matéria do ser humano. Tudo
aquilo que pode ser expressado psicologicamente (dentro) pode ser expressado
corporalmente (fora). Sendo assim, o homem molda seu corpo a partir daquilo que
lhe compõe.
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